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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

NÃO EXISTE JORNALISMO DO BEM. PARTE 2

Com o aumento da complexidade das sociedades modernas, o jornalismo abriu novos espaços, como o que se chama de jornalismo de serviços. Um suplemento de turismo de um jornal pode conter matérias interessantes sobre passeios exóticos, junto à Natureza ou em Londres e, nem por isso, transformar-se em simples peça de propaganda. Para isso bastariam os folhetos de promoção publicados pelas agências de turismo.

Quantas coisas podemos querer saber antes de tomarmos um avião para outro pais? Que documentos levar? Quanto custará uma semana lá? É seguro? É adequado para crianças? Os preços são acessíveis ao bolso? As matérias devem trazer dados para que diferentes leitores possam situar-se, do mochileiro universitário ao que quer o sossego de um hotel mais caro ou alugar carros de luxo.

Milhões estão preocupados com a saúde, a alimentação, a beleza, a segurança, os direitos, e muitos outros tópicos que não constavam das pautas dos jornais há 50 anos.
Comer ou não tomates? Quem pode falar sobre isso, de forma segura, não colaborando para espalhar bizarrices de caráter científico?

Dar uns tapas na bunda de uma criança malcriada é necessário ou não? Como responder a isso com uma matéria decente, sem psicologismos e lugares-comuns? Jornalismo não se confunde com programas de auditório (e há ótimos) e nem é parte de um processo plebiscitário, direcionado para onde sopra o vento.

Todo mundo fala de aquecimento global. Há milhões em jogo. Qual a realidade disso?
Fazer jornalismo é ir bem além de entrevistar as figurinhas carimbadas da moda que falarão o que ativistas esperam para iludir os desinformados. É dar voz aos que parecem ir contra a corrente e cruzar os dados.

Sócrates foi contra a corrente. Galileu foi contra a corrente. Hoje temos que concordar que a Terra não é mesmo plana e os oceanos não despencam no abismo. Se o jornalismo ouve esta ou aquela corrente, apenas, dando uma direção ao fluxo de informações, o que está sendo praticado é propaganda, doutrinação, qualquer coisa, menos jornalismo. O jornalismo, gostem ou não, alguns, é uma atividade que tem algo de advogado do diabo.

O que mostra a força do jornalismo e a sua utilidade social é que os grupos políticos, religiosos, ideológicos, econômicos, gostariam de usá-lo como ferramenta, como instrumento de manipulação, para atingir adversários.

Esse é o centro da questão. Se o jornalismo serve para ser usado como estilingue, como arma, poderá ser usado, então, no sentido contrário. Mas, o jornalismo que se reduz a esse jogo restrito, de ouvir este ou aquele, sem interesse na real apuração dos fatos ou do problema investigado , o que incomodará a muita gente, não pode ser chamado de jornalismo.

Isso não significa que seja uma atividade heróica ou quixotesca, apenas busca chegar o mais perto possível da verdade sobre um fato. Seja um fato policial, uma descoberta científica, uma moda, o valor de um romance, o enredo de uma novela e o decorrente fascínio das multidões.
Em todos os campos das atividades humanas o jornalismo encontra lugar, nunca podendo ser confundido com as metas da propaganda, das relações públicas ou da divulgação comercial.
Um bom jornalista começa por ser curioso. Tem muito mais perguntas que respostas. Mas, para fazer perguntas, é preciso observar o meio, perceber contrastes, ter sensibilidade para o que parece errado ou estranho. Saber ouvir, ter persistência na busca de respostas, e diversificar as fontes.

Mas a observação do meio exige critérios, e isso leva à necessidade de informações e leituras. Um jornalista precisa de normas, método e, fundamentalmente, princípios. Precisa crer que alguma coisa pode ser melhor explicada e fazer o melhor para que isso aconteça.
Acreditar que existe sim a verdade, e a realidade. A despeito dos incrédulos e dos céticos.
(Continua)

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