Pesquisar este blog

quinta-feira, 17 de março de 2011

"REVOLUÇÃO E TRÁFICO SÃO IRMÃOS SIAMESES". Isto não interessa à imprensa investigar

BAÚ DE TEXTOS


Em artigo valiosíssimo publicado dias atrás, o prof. Denis Rosenfield desmascara o cacoete mental, de amplo uso nas altas esferas federais e na mídia, que apresenta as Farc como um grupo de idealistas revolucionários tardiamente "degenerado" em quadrilha de narcotraficantes.

Não existe, diz ele, essa antinomia. Bem ao contrário, revolução e narcotráfico são irmãos siameses, unidos desde sempre e para sempre. Ele cita a "guerra do ópio" empreendida por Mao Dzedong contra várias províncias chinesas.

Esse exemplo fala por si: foi o primeiro caso registrado na História em que um poder político organizado viciou deliberadamente a população do seu próprio país, para enfraquecê-la, explorá-la e dominá-la.
Mas há um exemplo mais próximo de nós. Não sei se o prof. Rosenfield o conhece, mas tem aí uma comprovação da sua tese em grau superlativo. O grande narcotráfico latino-americano não surgiu como puro negócio ilícito, só mais tarde articulado com a luta revolucionária. Até os anos 50, o comércio de drogas no continente era um problema policial controlável.

Não cresceu espontaneamente. Quem lhe deu a estrutura organizacional que haveria de transformá-lo num monstro capaz de atemorizar Estados e exércitos foi o governo soviético, através de "medidas ativas" do seu serviço de inteligência. A operação, lenta e sorrateira - até hoje ignorada pela "grande mídia" -, teve dois objetivos: usar as drogas como arma de guerra psicológica, para enfraquecer as nações capitalistas, e criar ao mesmo tempo uma fonte local de dinheiro para os movimentos revolucionários latino-americanos, cujo financiamento estava saindo caro demais para os soviéticos. 

Os meios utilizados para isso foram bem simples: de um lado, infiltrar agentes nas várias quadrilhas de narcotraficantes, para que as controlassem; de outro, enviar à URSS os traficantes já cooptados e leais, para que aprendessem técnicas avançadas de organização, inteligência, guerrilha urbana etc. A operação foi descrita em detalhes por um de seus próprios mentores e comandantes, o general tcheco Jan Sejna, em depoimento ao escritor inglês Joseph D. Douglass, que a publicou no livro Red Cocaine: Drugging the Americas and the West (London, Edward Harle, 1999).
Ante o desenrolar subseqüente dos acontecimentos, é impossível negar que as duas metas visadas pelos soviéticos foram atingidas. Sem as drogas, jamais teria sido possível corromper a juventude universitária dos EUA ao ponto de fazer dela o principal instrumento de boicote ao esforço de guerra no Vietnã e, desde então, a toda iniciativa anticomunista do governo americano.

 Sem as drogas, teria sido impossível transformar as frustradas guerrilhas latino-americanas dos anos 60 na tremenda força político-militar-criminal que hoje, sob a proteção do Foro de São Paulo, espalha o terror no continente.
Só quem nada estudou da mentalidade revolucionária pode imaginar que, nela, haja alguma contradição entre ideais pomposos e crimes hediondos. Foi a fusão indissolúvel desses dois elementos que a criou e que hoje, como sempre, a define.
O livro de Joseph D. Douglass é leitura indispensável a quem deseje sinceramente compreender o que está se passando na América Latina.

Olavo de Carvalho, 5 de agosto de 2010 

extraído do blog Cavaleiro do Templo:
http://cavaleirodotemplo.blogspot.com/p/red-cocaine-esquerda-e-as-drogas.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário