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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O ALUNO DE DEZ ANOS QUE ATIROU NA PROFESSORA. David atirou na professora, em São Caetano do Sul, e em seguida na própria cabeça. Morreu horas depois. Ele não explicará seus motivos, mas um desenho no caderno talvez explique tudo.


DAVID, DEZ ANOS
Publiquei dois textos esta semana sobre a violência nas escolas. A cada dia temos mais notícias de agressões de alunos a professores.

Mas a história de David Mota Nogueira parece ser  diferente daquelas que refletem, de modo geral, a  mais absoluta falta de educação dos alunos e a falta de respeito para com a figura dos professores. 

Inicialmente, parece uma história fácil de contar: “um garoto de dez anos saca um revólver da mochila, mira a professora e atira. Ela cai ferida. O garoto sai da classe e em seguida a um tumulto que se iniciou após o disparo alunos da escola escutam outros dois estampidos.

David havia atirado duas vezes em sua própria cabeça. Morreu horas depois em um hospital.
A professora foi ferida no quadril, operada, e passa bem. 

Mas, creiam, é uma história difícil de entender. Por que uma criança de dez anos de idade atiraria em sua professora, uma pessoa que, segundo os coleguinhas de David, é bastante estimada pela as crianças?  David atirou na professora Rosileide diante de 25 colegas.

Tendo já muitas décadas de vida, e lido sobre os casos mais estranhos e bizarros, fiquei imaginando algumas hipóteses, antes mesmo de ler mais sobre o caso do pequeno David.

APAXONADOS PELA PROFESSORA

Pensei em quando tinha a idade de David, dez anos, nos distantes anos 50, no interior de São Paulo. Metade da classe (garotos) era apaixonada pela professora de Ciências. Um morena linda de pernas roliças. Aquilo parecia o máximo, e era uma das aulas mais esperadas. Mas a professora talvez nem percebesse essa paixão infantil.

Seria algum de nós capaz de matar a querida professora devido à paixão não correspondida? Creio que não, pois isso nunca aconteceu. Teria David se apaixonado pela professora?

Não escrevo isso zombando de David, apenas tentando me colocar em seu lugar. Digo, há cinqüenta anos alunos se apaixonavam por suas professoras. Será que isso ainda acontece nestes tempos elétricos, rápidos, em que as crianças têm acesso a tantas e tão desencontradas informações e influências? Temos lido sobre casos de paixão entre alunos e professores. David parecia um garoto fechado e meio tímido, e talvez fosse meio maduro para a sua idade.

Teria sido um mero acidente? Li, ao longo do tempo, sobre muitos acidentes com revólveres (mas sou contra a campanha do desarmamento) que crianças pegaram em casa, de alguma gaveta, ou do alto do armário e, para exibir-se para os colegas, levaram à escola.

Como crianças não costumam ter qualquer noção sobre armas de fogo acabavam puxando o gatilho e ferindo ou matando algum coleguinha, por pura fatalidade. Teria sido esse o caso de David? Poderia ter sido uma exibição inconseqüente, não tendo reparado que a arma estava carregada? Não parece ser o caminho da explicação, pois David não ficou exibindo o revólver 38 que ele pegou do lugar em que o pai o havia deixado, sobre o armário.

Mas o que explicaria, então, ele ter saído da classe e dado dois tiros na cabeça? Se não foi mero acidente, teria o garoto pensado mesmo em atirar, por algum motivo na sua professora? Desenho encontrado pela policia em um caderno, na mochila dele, indica que havia algo afetando o garoto.

Segundo li no noticiário uma colega teria contado ao seu pai (dela) que David teria falado sobre matar a professora. Mas quem levaria isso a sério, sendo David um garoto considerado suave, doce, não briguento, e sem problemas com os colegas? A policia terá que investigar isso.

Li, também, que o menino teria um problema em uma das pernas (que puxava) e seria alvo de zombaria por parte de alguns colegas. Não sei se é verdade. Mas qual a razão de, por causa disso, atirar na professora?

A vida  tem uma trama estranha. Teria a professora alguma vez dito algo sobre o pequeno defeito (se é que ele tinha o tal defeito e se é que ela teria dito algo) que o tivesse magoado ou deixado triste, ou com raiva? Nunca comentou isso com o irmão mais velho (14 anos) ou com os pais, ou com colegas na escola? Mas isso seria motivo para tentar matar alguém?

Bem, sobre isso a policia terá que investigar. E as autoridades escolares também. Pelo que soube, a escola é considerada uma boa escola, mas isso é outro assunto. Nem imagino se a professora algum dia zombou do suposto defeito de David. Caso tenha ocorrido, foi um erro, uma falta de cuidado e, até, de humanidade. Mas, ainda assim, isso seria o suficiente para a tentativa de morte?

Mas começada a pesquisa sobre o caso e lê-se que o namorado da professora, chamada Rosileide Queiroz de Oliveira, de 38 anos, Luiz Eduardo Hayakawa, a professora chegou a falar para ele (namorado) que tinha alguns problemas com um aluno chamado David. Descobriu-se agora que era outro David. O nosso David, portanto, fica fica portanto fora disso.  

Lendo as notícias iniciais, parece que tudo era um mar de rosas. O garoto, um anjo; a escola, a melhor possível. Sobre a arma do pai, logo a corporação disse que era particular. Isto é, todo mundo quer passar a melhor imagem sobre si na fotografia das notícias, inclusive as instituições.

Não sei de nada, apenas leio notícias e penso. Não é normal uma criança pegar o revólver do pai, levar à escola, atirar na professora e ainda meter duas balas na própria cabeça. Isso não se encaixa em nada do que costumamos ler. 

Seria raro, mas não seria anormal, uma criança levar uma arma e fazer um disparo acidental, exibicionista, não prevendo as conseqüências.

Seria estranho, mas seria humano, que um dia a professora tivesse deixado escapar alguma coisa sobre o defeito na perna de David e ele não tivesse gostado disso.

Seria estranho, mas não impossível, um garoto dizer para uma colega que pretendia matar a professora, e ela não levar isso adiante, ou se levou, isso não chegar à administração ou à policia, pois poderia ser uma fabulação ou exagero infantil. Muitas vezes falamos, por força de expressão que gostaríamos de matar alguém. O comportamento de David, ao que parece, não indicava um vândalo.

A família de David, apesar da dor óbvia, perdeu um filho, liberou rapidamente informações do Orkut de David para mostrar o quanto era querido e meigo e cheio de amigos. Tudo bem, isso tudo deve ser verdade, diante das evidências. Mas famílias tendem a ser protetoras (é humano) com seus parentes.

Contudo, ao fim da história, restam algumas perguntas incômodas, que a família terá que responder às autoridade escolares e policiais: o garoto tinha mesmo problema físico? Esse problema físico o afetava psicologicamente?

Ele teria, de fato, algum problema psicológico ou mental que o obrigava a tomar medicamentos? Ele os tomava? Alguma vez ele se queixou de zombaria de colegas ou da professora para com ele? A família teria tomado alguma providência?

Claro, a professora, que teve a sorte de não morrer, também terá algumas coisas a dizer sobre o caso. David, afinal, era ou não um problema na sala de aula? Ela o teria ofendido alguma vez? Ela tratou dessas questões com a família ou com a direção da escola? Teria percebido ela algum interesse diferente dele por ela?

Todas são perguntas que não poderão ficar sem respostas.

SENTINDO-SE SEM SAÍDA

Para mim, o caso parece refletir mais o drama pessoal de David do que ser um caso comum como os de vandalismo sobre os quais lemos todos os dias. Às vezes acontecem coisas em nossa vida que pensamos ser um imenso obstáculo. Alguns acham que não encontrarão força para ultrapassá-los. A morte parece a única saída. 

Mas isso teria acontecido com David? Ele tinha só dez anos de idade!

O desenho encontrado na mochila mostra um menino, com duas armas, e um figura assinalada como “professor” . A informação foi divulgada pela delegada do caso, Lucy Masttelini Fernandes. 

Mas não foi esclarecido pela delegada se “professor” está no indefinido (neutro) para que não se indique o nome de alguém, como Professor Tal, ou Professora Tal, para não atrapalhar as investigações.

Detalhe a acrescentar: no desenho do que seria ele mesmo (David) está assinalado: “eu com 16 anos”. Por que David se colocaria no futuro, no desenho? Penso ter a resposta. Com 16 anos ele poderia fazer o que não poderia fazer com apenas dez anos. Creio que o garoto gostava muito de sua professora. Muito mais do que imaginamos. Volto a pensar na professora de Ciências... Mas pode ser que a polícia encontre, ou tenha já encontrado outra resposta. O tempo dirá.

Mais uma vez não consigo deixar de ficar triste com a história de David e de como ele resolveu solucionar seu problema, e de pensar no grande Nelson Rodrigues e suas histórias fantásticas sobre o cotidiano.

Que fique o alerta sobre mudanças de comportamento de seus filhos. Muitas vezes crianças sofrem em silêncio por falta de encontrar um ombro amigo ou ouvidos atentos.    

O menino estudava na Escola Municipal Alcina Dantas Feijão. O garoto será enterrado hoje (23), às 16 horas, no cemitério das Lágrimas, em São Caetano do Sul. 

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