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sexta-feira, 1 de junho de 2012

A ILUSÃO DE CONTROLAR A REALIDADE PELAS REDES SOCIAIS E TELEFONES CELULARES.


Três ou quatro amigos vão almoçar no intervalo do expediente. Logo aparecem sobre a mesa cinco ou seis celulares. O Brasil tem agora 250 milhões de linhas telefônicas. Um almoço que poderia durar uma hora, uma hora e meia, com dois ou três assuntos, com agradável cordialidade, calma, atenção, hoje tornou-se quase impossível. 

A conversa é entrecortada por olhares ansiosos aos aparelhos telefônicos, os assuntos não terminam, os vínculos não se estabelecem ou são interrompidos, fragmentados, picotados por olhares às telas e dedos que digitam os destinos do mundo.

Gosto de observar à minha volta. O comportamento humano é fascinante. Esta época, da alta tecnologia de comunicação é fantástica, quanto mais rápida mais envolve os usuários, como se não pudessem ter vivido, antes, um único dia de suas vidas sem essa fúria conectiva.   

Os jovens andam  pelas ruas grudados nos seus aparelhos, portando-os em uma das mãos, atentos, como se seguissem o rumo indicado pelo GPS. Não olham de lado, não param para observar um tipo diferente, um detalhe arquitetônico, uma paisagem. Pressa. Atenção. A maldita tela luminosa.


Não sei mais se as pessoas ligadas com tanta intensidade a tais aparelhos encontram uma motivação especial para viver assim, nessa realidade virtual, ou foram sugadas para dentro de tais sistemas, deixando o corpo do lado de fora do aparelho, como um acessório da máquina.

Não, não estou criticando as máquinas e nem a tecnologia moderna e nem os celulares ou a Internet e as tais famosas redes sociais. Mas essa atenção constante a tais telas e a desatenção que se verifica com o próximo, ao seu lado, na mesma mesa de almoço, não deixam de ser altamente significativas. Tudo isso parece mais uma grande neurose, um vicio, uma patologia.

O psiquiatra austríaco Viktor Frankl, autor de um livro fascinante chamado de “Em Busca de Sentido”, diz que levantamentos estatísticos indicam que há uma alta taxa de manifestação de vazio existencial  pelos jovens europeus (25%) e que entre os seus alunos americanos a taxa chegou a 60% (Consideremos que é um livro da década de 90).

Para ele (pág.97) “o vazio existencial se manifesta principalmente num estádio de tédio”...  Claro, o autor se refere à sociedade industrial do Século XX, com suas máquinas, automação e desemprego.

Creio que a eletricidade, que a tudo acelera, gera essa aparente necessidade de estarmos plugados para não perdermos tudo o que acontece no mundo. A eletricidade e a rapidez decorrente criam essa ilusão de apropriação sobre os fatos.

Mas, numa sociedade em que o peso do passado diminui, e o futuro parece nunca chegar, milhões ficam ligados à voragem do agora, numa realidade virtual, enquanto suas vidas passam depressa, depressa demais, e elas não se dão conta de, ao menos, olhar para o lado.

IMAGEM:
http://www.stockvault.net/blog/photography/30-beautiful-solitude-themed-photographs/


    

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