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terça-feira, 23 de outubro de 2012

A HIDRA E O MENSALÃO. Ou, um partido não pode dominar o Estado; seria o fim da Democracia.


A HIDRA PETISTA

RODRIGO SIAS
22 OUTUBRO 2012           

Como o PT nasceu com o "DNA gramsciano" e seu o objetivo final sempre foi estar acima do Estado, seus membros pensam estar além das leis. Por isso, não se sentem na obrigação de defendê-las.


A mitologia grega era riquíssima em personagens. O monstro chamado Hidra possui um corpo de dragão e cabeças de serpente. Os guerreiros que o enfrentavam deparavam-se com uma grande dificuldade: a cada cabeça cortada, logo surgiam duas no lugar.

O guerreiro Hércules foi aquele que venceu a Hidra. Ao invés de tentar decepar as inúmeras cabeças que sempre se multiplicavam, desferiu um ataque fulminante na cabeça principal do monstro, liquidando com um golpe certeiro também as outras cabeças.

A lição da história é clara: certos impasses só são resolvidos atacando diretamente no centro de geração dos problemas. Ataques em zonas periféricas não resolvem: no lugar de uma cabeça cortada, logo nascerá outra tão mortífera como a anterior.

O julgamento da Ação Penal 470, o Mensalão, vem sendo comemorado como uma grande vitória na luta contra a corrupção. De fato, o STF, em sua maioria, vem se posicionando de forma resoluta contra o terrível esquema de compra de votos e eternização no poder por meios ilícitos.

Entretanto, de nada adiantará condenar figuras proeminentes se a "cabeça principal" for mantida intacta. O Judiciário, duro com os atos de corrupção, não ataca o centro do partido que nos governa, corroborando a impressão que o PT quer passar de que tais atos seriam meros desvios dos belos ideais proclamados. Essa tática de se limpar na própria sujeira é antiga.

Leiam o livro ‘New lies for old’ do ex-agente da KGB Anatoliy Golitsyn, sobre os planos de desinformação soviéticos, e entenderão o que se passa no Brasil de hoje.

A verdade é que a origem do Mensalão está na gestação do PT. Ao invés de criar um partido para defender,como alegavam, direitos dos trabalhadores e fazer a necessária pressão sobre os lucros para dividir a prosperidade capitalista, o PT foi criado com a ideia gramsciana de organização.

Um "Partido Príncipe" - que incorporaria a virtu imoral de Maquiavel - deveria crescer, se infiltrar no Estado e dominá-lo até que não haveria diferença entre o que seria o Estado e o que seria o partido. Ou melhor, haveria sim uma grande diferença: o partido estaria acima do Estado.

Uma vez que o Estado decodifica as leis e regulamentos, quem se coloca acima do Estado, por definição, se posiciona acima das leis. Como PT nasceu com o "DNA gramsciano" e seu o objetivo final sempre foi estar acima do Estado, seus membros pensam estar além das leis. Por isso, não se sentem na obrigação de defendê-las.

Ao contrário, o grande impulso é o de justamente transgredi-las até que o partido seja a própria lei. Não é preciso ser gênio para entender que um partido assim não tem a intenção de respeitar a democracia, a alternância de poder ou a separação entre governo e Estado.

Se as lideranças do partido não forem investigadas de nada vai adiantar o julgamento do Mensalão. Não se pode permitir a entrega dos anéis para preservar os dedos.

A não ser que o mal - o "DNA gramsciano" - seja cortado pela raiz, escândalos atrás de escândalos continuaram a ocorrer. E ao lado de cada cabeça petista condenada, duas novas vão surgir, tal como a hidra da mitologia grega.

A corrupção simbolizada pelo Mensalão é apenas o meio para o alcance dos objetivos. Punir os meios e deixar os fins intactos. Essa é a tática para a manutenção da corrupção endêmica. E para destruir a democracia.

Publicado no jornal Brasil Econômico.
Rodrigo Sias é economista do Instituto de Economia da UFRJ.

TEXTO REPRODUZIDO DO SITE MÍDIA SEM MÁSCARA:

PS.

Para complementar o excelente artigo de Rodrigo Sias, sugiro a leitura do livro de Luís Mir sobre a história de como foi a gestação e o nascimento do PT.

O produto de sua longa pesquisa está em “Partido de Deus”, em que o autor mostra as profundas raízes católicas do partido, depois cruzadas com uma perspectiva marxista. O resultado foi a criação de um agrupamento que se vê especial, acima do quadro político normal, e com uma missão redentora de recriação do Brasil.

PARTIDO DE DEUS - FÉ, PODER E POLÍTICA do historiador Luís Mir

A epopéia do catolicismo no Brasil sempre foi a de um Estado religioso ortodoxo com braços políticos, atuando diretamente na sociedade brasileira. Neste contexto, o historiador Luís Mir apresenta um estudo original sobre as idéias de um Deus-Estado e as esperanças estilhaçadas da população brasileira, uma história político-religiosa de cinco séculos, marcada pelo conflito entre a fé e a razão.

SOBRE O LIVRO:

No Brasil, referir-se à religião católica como religião estatal (e portadora de um teologismo político) é incorrer em pecado, um anátema. Faz-se exclusivamente sua abordagem como fé, doutrina, teologia, jamais como Estado religioso.

Partido de Deus - Fé, Poder e Política explora os caminhos que levaram o Estado religioso católico na construção de um partido político-religioso. Sua investigação inicia com o primeiro passo do Deus de Roma ao lado de Pedro Álvares Cabral, quando da descoberta de uma grande ilha a caminho das Índias.

Mergulhando na epistemologia da atuação política do Estado religioso católico no Brasil, desde o Descobrimento até os dias atuais, o historiador Luís Mir aponta as condições que levaram a CNBB -  Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a herdeira legítima da Ação Católica, a aventurar-se na constituição de um partido político/central sindical no derradeiro dos anos 1970. O autor desvenda os alicerces da maior invenção político-religiosa do Estado católico em toda a sua história no Brasil, o Partido dos Trabalhadores e a Central Única dos Trabalhadores. 

Partido de Deus descreve as estrututras ideológicas que engendraram o plano salvacionista da CNBB e a fabricação de um líder messiânico, a partir de uma emergente liderança sindical, Luiz Inácio da Silva. A figura do líder sindical do ABC, respeitável, que dividia o palco com outros líderes sindicais e políticos tão ou mais importantes que ele, era fenômeno restrito e não suficientemente emblemático para uma jornada que se pretendia como a reconquista da Terra Prometida. Esgotado seu papel como líder sindical, a marcha libertadora, a romaria dos despojados, exigiria muito mais, ordenava a construção do mito.

No final do século XX, o Estado religioso católico se defronta com a maior crise em toda sua história: o fracasso ético e moral de sua grande criação, o Partido dos Trabalhadores e o desmoronamento do ídolo de pés de barro, o pai dos pobres, Luiz Inácio da Silva, o novo Antônio Conselheiro, eleito pelo Deus de Roma para a consumação da redenção nacional. Teríamos um novo país, uma nova história, uma nova ética, uma nova política. Essa ação divina acabou em tragédia republicana e nos condenou, mais uma vez, a repetir a farsa do passado, a falência do presente e a destruição do futuro.

Partido de Deus - Fé, Poder e Política é uma imperdível investigação sobre a biografia do Estado religioso católico dentro da história secular brasileira e as personalidades que fizeram parte deste cenário.

SOBRE O AUTOR: 
Luís Mir é historiador, autor de A Revolução Impossível (1994) e Guerra Civil (2004). Recebeu o Prêmio Jabuti 2005 por Genômica (2004).

"Impressionou-me sempre a seriedade com que Luís Mir, há anos, pesquisa o tema. Bem como o volume de informações que processou e a competência com que nos apresenta suas conclusões, num discurso fluente, estimulado pela paixão de quem busca a verdade, sem medo do que possa lhe acontecer por parte dos bem-pensantes. Recomendo a leitura de Partido de Deus aos que sejam capazes de não se escandalizar farisaicamente com as verdades que o autor nos lança em face. Quem sabe ele não nos esteja oferecendo uma ocasião para testar a profundidade de nossas convicções? Partido de Deus é um corcel bravio de um cavaleiro apaixonado."
Francisco Catão, professor titular de Teologia do Instituto Pio XI, Doutor em Teologia pela Universidade de Strasbourg

HERCULES E A HIDRA:

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